1.   A evoluçãohistórica da internacionalização do capital

O capitalismo teve oinício do seu centro dinâmico na Europa, especificamente na Inglaterra,Holanda, Alemanha, França propagando-se depois para Estados Unidos. Este modelode produção e acumulação de capital vem criando e recriando fronteirasgeográficas e culturais influenciando os novos desenhos dos mapas do mundodesde de sua origem  até a suaglobalização total ocorrida nos anos finais do século XX.   Pela sua naturezao  capitalismo, está sempre em busca denovos mercados para o desenvolvimento do processo de acumulação.

Pode-se dizer que ainternacionalização do capital se originou no Século XV com a ativação docomércio marítimo mundial, mas foi a partir da metade Século XX que a difusãomaciça da tecnologia da informação nas atividades econômicas deu-lhecaracterísticas e impulsos sem precedentes na história da humanidade.  O desenvolvimento e difusão da informáticapossibilitaram a adoção de novas estratégias de produção e distribuição dasatividades das corporações produtivas. A partir da introdução da informática,as unidades de produção puderam ser reformuladas transformando as empresasintegradas verticalmente em um modelo das networks  [rede de produção] que incorporam diferentes empresas em um  mesmo projeto global.

Nesse processo, tanto atecnologia de produção quanto o capital adquiriram uma mobilidade crescente eacelerada pela possibilidade de fragmentação da cadeia produtiva. Afragmentação da produção possibilita que um mesmo produto possa serdesenvolvido em vários locais diferentes e desta forma somente a mão de obratornou-se o fator não móvel, permitindo a incorporação do low-wage [mão de obra barata] na lógica global.

A forte competição entreas networks, empresas líderesglobais, tornou-se o motor seletivo do capitalismo atual cuja dinâmica éalimentada inicialmente pela concentração e a fragmentação da produção mundialcaracterizada pela necessidade de uma escala cada vez maior de investimentos.Estes investimentos têm como objetivo manter ou adquirir liderançastecnológicas e reduzir a quantidade de agentes decisórios da produção mundial.

A evidência destaconcentração pode ser notada pelos dados referentes as maiores corporaçõesmundiais que detêm juntas a maioria dos estoques dos investimentos globaisdiretos e dos fluxos de pagamentos internacionais de royalties e fees.  Segundo DUPAS (1999), atualmente, o processoprodutivo mundial é composto em sua maioria de corporações oligopolizadasdestacando-se as montadoras de automóveis, a extração, refino e distribuição depetróleo e as de comunicação com seus investimentos espalhados pelos cincocontinentes.  A maioria dessas empresasé de origem americana, japonesa, alemã, francesa, italiana, suíça, inglesa eholandesa, países que estiveram presentes na I Revolução Industrial.  As grandes líderes da produção global, comoé caso da indústria automobilística, tradicionalmente desconcentrada,atualmente, tem sua produção concentrada em apenas cinco  fabricantes com cerca de 40% daprodução  mundial  demonstrando que os países que assumiram ocontrole da primeira fase da internacionalização do capital  entre 1450-1850,  ainda mantêm aliderança da produção mundial.

Uma das explicações paraesta concentração está no monopólio da tecnologia, conseqüência dosinvestimentos em pesquisas. Nos países desenvolvidos dentre os quaisdestacam-se os USA, a Alemanha e o Japão, os investimentos anuais em pesquisana década de 80, ultrapassaram 3% do PIB, enquanto que no Brasil não atingiu 1%do Produto Interno Bruto no mesmo período (COUTINHO & FERRAZ,1994:135).   Percebe-se pelas fusões eincorporações que a tendência do capitalismo contemporâneo, embora existam osacordos e o protecionismo, é continuar a formação de grandes grupos operando emnível mundial e lutando preponderantemente por mercados abertos.

Apesar da internacionalizaçãodo capital como forma comercial e de crédito ter se iniciada com as grandesnavegações, a internacionalização do capital produtivo veio ocorrer após aPrimeira Revolução Industrial, com a implantação no exterior das filiais dasindústrias inglesas acompanhando a divisão internacional do trabalho propostapela Inglaterra.  A consolidação veioocorrer a partir da Segunda Revolução Industrial com a internacionalização dasgrandes empresas aprofundada pela concorrência entre as grandes potências.(TAVARES, 1998: 41)

Esse primeiro movimento dainternacionalização do capital chega ao seu auge na belle époque  (1870-1914) noinício do século XX,  com o firmecrescimento da produção e do comércio mundial. Nesta época, o mundo inteiro participava de uma civilização mercantilintegrada.    Por volta de 1913, ocomércio internacional representava grande percentual do PIB de vários paísesda Europa.  Dentre estes paísesencontravam-se  a França com 35,4%, aAlemanha 35,1% e o Reino Unido com 44,7%. 

Nessa fase, que vai até aofinal da década de 1920, o capital exportado pelas principais potênciaseconômicas européias, tanto em forma de investimentos diretos ou em forma deações, atingiu níveis percentuais do PIB que não foram ultrapassados até hoje.E foram esses capitais que ajudaram a construir a América do Norte, Argentina,Austrália e África do Sul considerado os “tigres econômicos”  da Era Vitoriana. (HIRST,1998:101-20)

O segundo grande movimento decapital internacional foi caracterizado pela concorrência interestatal entre asgrandes potências, através do boom quese iniciou após a Segunda Guerra Mundial, sob a  liderança das  grandesempresas americanas.  A expansãocomercial ocorreu entre as matrizes e suas filiais, com o predomínio das açõesintra-firmas para  fugir das barreirasprotecionistas nacionais e regionais como ocorreu na América Latina e naEuropa. Este processo de crescimento das multinacionais durou até o início dacrise do petróleo imposta pela OPEP em 1973.  Neste período, que vai de 1950 a 1973 o comércio mundial cresceu a umataxa média anual de 9,4% enquanto a produção mundial cresceu 5,3%.  Percebe-se, portanto, que o comércio internacionalcresceu a uma taxa maior que a produção, que, por sua vez também atingianúmeros nunca antes conhecidos, bem superiores aos índices conseguidos noperíodo da belle époque  e os que foram alcançados recentemente nosanos 90.

Nesta fase o cenário políticointernacional era conduzido no Ocidente pelos Estados Unidos e no Leste Europeupela União Soviética. Os movimentos de capitais entre as diversas economiaseram controlados com rigor na maioria dos países.  Caberia então aos demais países concentrar seus esforços naconsolidação de seus espaços econômicos. Essa relativa dissociação entre oscenários políticos e o econômicos teve conseqüências importantes e que vãoaparecer com clareza alguns anos mais tarde na fase em que se inaugura com o fim da guerra fria.

A evolução econômica de paísescomo a Alemanha, França e Japão são exemplos de otimização destas oportunidadesde consolidação dos seus espaços econômicos. Estes países souberam reestruturar seus sistemas produtivos, seja comrecursos próprios ou aproveitando-se das circunstâncias de serem áreasprioritárias para investimentos. Os referidos países conseguiram, num ambienteaparentemente hostil encontrar espaços para seu crescimento econômico. Nesseperíodo, diversos países com grande potência econômica atingiram taxas decrescimento na produtividade de seus fatores comparáveis aos atuais “tigresasiáticos”.  De acordo com HIRST(1998:105), mereceram destaque a França com 3,0% (1950-1973); Itália com 3,4%(1952-1973) e o Canadá com 1,8%  (1947-1973).

Um dos fatores quecontribuíram para o desenvolvimento econômico foi a necessidade de  recuperação das economias após a SegundaGuerra que veio de encontro aos interesses de expansão da acumulaçãocapitalista proporcionando o campo favorável à industrialização de váriospaíses não desenvolvidos dentre os quais, o Brasil e Argentina.  Essa expansão ocorre, com a indústriatêxtil, a indústria automobilística e as indústrias de base inaugurando um novociclo de produção.

A partir dos anos 80 o crescimentoda abertura internacional, facilitado pelo desenvolvimento das comunicações,levou aos grandes oligopólios à consolidação de novos mercados e a impor novoshábitos de consumo em todo o mundo. As ações dos grandes grupos, ajudadas pelaimpressa, vieram criar um ambiente favorável à queda das barreiras e à expansãoda nova ordem do comércio mundial tornando consumidores do mundo inteiro umgrande mercado global. 

A velocidade da criação e dadistribuição de novos produtos nos mercados mundial intensificou e acelerou, nosistema produtivo, o processo de destruição criadora (SCHUMPETER, 1979: 50),que  passou a impulsionar em um espaçode tempo cada vez mais curto  a substituiçãodos bens existentes no mercado por novos bens, tornando-se estratégico produzi-los  em qualquer parte do mundo.  Os espaços geográficos passaramconstantemente a ser alterados pelo processo da mundialização da economia,principalmente, com a redução das barreiras protecionistas alfandegárias,tarifárias e não tarifárias[1]e o fomento do intercâmbio tecnológico.

 

2. Globalização financeira e  a mundialização do capital

Todavia na globalização atual,podem ser destacadas duas vertentes. Uma delas é a continuidade dainternacionalização do capital produtivo, iniciada na primeira RevoluçãoIndustrial com as empresas rompendo sempre novas barreiras de produçãoglobalizada. A outra se traduz no fluxo da internacionalização do capitalfinanceiro que desde o Consenso de Washington, ocorrido em meados da década de70, vem se acentuando em prejuízo dos investimentos produtivos. (CHESNAIS,1998: 87).

Na globalização docapital financeiro, os estoque de moedas são aplicados nos mercados sob a formade dinheiro exercendo forte preferência pela liquidez e comandado pelos grandescentros financeiros que mantém o elo de conexão entre si nos principais paísesdesenvolvidos. Estes mercados financeiros têm apoio de seus governos que asseguram a sua liberalizaçãoe desregulamentação (CHESNAIS,1998:22).

Alguns autores como BAUMANN(1996:33) analisam como positiva a globalização financeira para os mercados deorigem, desde que estes ativos consigam romper as barreira da regulamentação de seus  países na busca de melhores ganhos.   No entanto, estes movimentos suscitam temores em outroscientistas econômicos, dentre os quais: Chesnais e Conceição Tavares, de queesta mobilidade crescente possa despertar movimentos especulativos em grandeescala, trazendo conseqüências desastrosas para economia dos países envolvidos.Outros autores seguidores da Teoria Keynesiana, dentre os quais James Tobim,considerado um fiscalista, defende que a política monetária e fiscal afetam onível de produto e de emprego de forma rápida, mas sem efeitos sobre o nível depreços.

De acordo com TAVARES(1998:42), estas políticas foram impostas pela ideologia neoliberal dasautoridades econômicas americanas que submeteram a economia mundial a umalógica financeira global sem precedente. Portanto, não se trata de um fenômenonatural resultante das ações espontâneas de mercado, com querem os liberais enem tampouco da lógica da internacionalização do capital como poderiampretender os marxistas ortodoxos. Destaca-se neste processo que a globalização ou financeirização globalnão se propõe a uma divisão internacional de trabalho ou de produção duradourae hierarquizada.  Ao contrário, avelocidade das informações e principalmente da transmissão de dados possibilitaque os capitais financeiros percorram sem restrições as bolsas de valores domundo inteiro na busca de lucros de curtíssimo prazo.

O mercado mundial atualmente édominado pelas aplicações de curto prazo e se movimentam pelo mundo em busca delucros rápidos através da mudança nos preços dos ativos. O crescimento naescala de especulação em relação às outras transações é marcante. Em 1971,cerca de 90 % das transações estrangeiras visavam financiar o comércio e osinvestimentos de longo prazo e somente 10% destinavam-se a especulação.Atualmente, os percentuais se inverteram e cerca de 90% das transações sãoespeculativa e o volume é tão grande que supera as reservas estrangeiras doscomponentes do G7[2].

Desde a crise do câmbio de1993-1994, nos grandes centros de negócios de Nova York, Londres, Tókio,Frankfurt,  Hong Kong  e São Paulo entre outros, operadores financeiros com  equipamentossofisticados e assessorados por vários analistas econômicos assumiram  de comando do sistema capitalista mundial.Os commanding heights [altos postos de comando] movimentam bilhões de seus clientes, emquestão de horas dividindo-os em investimentos e mercados totalmente diversos.São esses operadores que ditam o ritmo da acumulação e fazem a partilha dasriquezas e do trabalho.

As oscilações dos mercados sãofrutos das expectativas que os investidores têm em relação aos ganhos, riscos eas incertezas na cotação dos seus contratos. Na verdade, os grandes bancos, no mundo das finanças globalizadosperderam seus espaços para as organizações não bancárias, instituições querepresentam sociedades coletivas de aplicações financeiras, os mutual funds[3].

O crash de 1987 em Wall Street, a fragilização dos bancos, a crise dosetor imobiliário 1990-1991 e a Crise Mexicana de 1994 e suas conseqüências sãoalguns exemplos recentes das influências da globalização do capital financeiroem nível de emprego mundial.

 

3. Os avanços da globalização e suas influência na AméricaLatina

A partir do início dos anos 90, osprincipais países latino-americanos também aderiram ao processo de globalizaçãoseguindo as medidas propostas pelo Consenso de Washington [4]que previam a estabilização monetária, a reforma do Estado e aberturacomercial. Como respostas a estas propostas foram adotados uns conjuntos demedidas dentre as quais se destacaram a abertura comercial, as privatizaçõesdas empresas estatais  e a redução dos déficitsprimários.

As conseqüências destasmedidas para economia foram a redução das atividades industriais, o corte dosgastos públicos e o aumento do desemprego formal e da informalidade. NaArgentina o desemprego atingiu cerca de 20% da força de trabalho, no Paraguai6,7 %, Uruguai 11,3%  e no Brasil odesemprego geral esteve sempre acima de 10 % e a informalidade chegou próximo a50% da população economicamente ativa e forte arrocho salarial. Na década de 90a taxa de ocupação em relação ao total da população nos países que fazem partedo Mercosul esteve sempre entre 29 e 38 % entre os homens e 19 e 24 % entre asmulheres

A abertura comercialacentuou-se com as medidas adotadas pela OMC após a rodada iniciada no Uruguaiem 1986, concluída em 1993 em Genebra e assinada em Marrakech e 1994, na qualse consagrou definitivamente o sistema multilateral de comércio e confirmou-sea supremacia dos sistemas baseados na abertura e flexibilização a frente doscomércios e serviços protegidos e fortemente subsidiados.

              As mudanças no perfilda economia mundial se alteraram principalmente com a determinação pelo“Acordo  assinado em Marrakech” na qualos fluxos dos intercâmbios comerciais e financeiros estejam determinados edominados pelo mercado e se tenha generalizado as empresas transnacionais. 

              Nestecontexto buscando encontrar formas de enfrentar a concorrência dos paísesdesenvolvidos e preservar seus sistemas produtivos e o mercado de trabalho ospaíses latino-americanos do cone sul dentre eles o Brasil, Argentina, Paraguaie Uruguai estabeleceram a adoção de uma política comercial comum em relação aterceiros Estados ou agrupamento de Estados como, por exemplo, a UE e aNAFTA.  A adoção destas medidas buscavaacima de tudo melhorar o nível de vida de seus povos com a implementação de umapolítica que tenha em conta uma abertura econômica com uma inserção maiscompetitiva na economia global. 

              SegundoIANNI (1999), Não se pode negar que as políticas externas de cada país sofrem oinfluxo e as pressões de fatores exógenos que limitam as ações dos Estadosnacionais.  Dentre estes fatores estãoas empresas transnacionais que moldam o cenário legal e econômico nacional einternacional de acordo com seus interesses tendo o respaldo dos organismosinternacionais[5] que obrigamos Estados ao seu cumprimento. 

              Todaviacabe ressaltar que quando estas decisões internacionais sejam via tratados oupor iniciativa das organizações internacionais, interferem na regulaçãoeconômica de um país temos interligação do binômio regras jurídicas e empresastransnacionais com forte influencia sobre os Estados que por um ladobuscam  atender às decisões tomadas nosorganismos internacionais da qual  ésignatário e por outro lado tem que se posicionar ao lado dos grandes gruposempresariais que sempre lutam por melhores condições de atuação.         

              Umoutro aspecto a considerar é que a dinâmica da economia mundial passou a serdominada pelos os avanços tecnológicos  e pelos fluxos deinformações determinando desta forma a relação entre os países. Todavia o quese observa é que estas tecnologias são dominadas pelas grandes empresastransnacionais e, portanto não pertencem aos governos dos países onde atuam.Esta dinâmica vem provocando avanços e melhoria no sistema de comunicação etransporte facilitando a mobilização dos fatores produtivos entre os paísesmembros inclusive de trabalhadores, acelerando as migrações temporárias epermanentes. A facilidade ou não da mobilização dos fatores de produção,dependerá da forma de condução do acordo entre os países membro. A migração detrabalhadores tem sido um dos temas mais polêmicos na formação dos acordosmultilaterais[6] não só noMercosul como também na União Européia, NAFTA e atualmente na formação do ALCA.

              Alivre mobilização de trabalhadores, um dos fatores da produção, implicarásegundo, AQUINO (1998) na adequação de uma vasta legislação trabalhista,previdenciária, escolar e sanitária, visando dar garantias não somente aostrabalhadores visitantes como também aos empreendedores que os contrata.

              Relacionandoos aspectos jurídicos aos econômicos mais relevantes do acordo pode-se enumeraralguns dos principais pontos cuja concretização vem se tornando em grandesdesafios ao Mercosul:

              a)livre circulação de capital, que possibilite melhor utilização segundo ointeresse do investidor;  b) livrecirculação de mercadorias, sem barreiras alfandegárias; c) Liberdade decirculação de trabalhadores, dentro e fora de seus estados limites; d)liberdade para produção, armazenagem e comercialização de produtos, permitindoque o produtor possa produzir no próprio Estado ou em outro signatário doMercosul;  e) Liberdade de concorrênciaque submetam todos os produtores as mesmas regras jurídicas e a idênticos  encargos  que incidam de uma mesma maneira nos produtos de sua empresa.

              Todavia,não há, no atual estágio de integração perspectivas  de adoção da livre circulação do fator mão de obra semelhante aoque ocorre na União Européia. Isto em razão de que o Mercosul  é uma união aduaneira e seus Estados membrosnão vêem a necessidade de regulamentar a livre circulação de trabalhadoresentre os países. Portanto a mobilidade dos trabalhadores  fica restrita às leis de migração entre os países-membros.

              Aindadentro da proposta de livre circulação de mercadoria o Conselho Mercado Comum(CMC) do Mercosul aprovou em agosto de 1994, a Tarifa Externa Comum (TEC) queembora com certa dificuldade vem sendo implementada. 

              SegundoSCHAPOSNIK (1997) as dificuldades  seorigina no modelo escolhido e sugere a análise a partir ideologia que inspirouo modelo e a forma como ele foi implantado. A euforia inicial, gerada pelaabertura comercial inter países do cone sul, que representou um grande avançono comércio entre os países membros do MERCOSUL. Todavia o aumentosignificativo das relações comerciais encobria um grande movimento que seformava nos países desenvolvidos em defesa de seus interesses. Este movimentoveio aparecer com maior ênfase já no final dos anos 90 quando das negociaçõesda ALCA. A forma como estas negociações serão conduzidas poderá ter reflexosdiretos no sistema produtivos e no nível de ocupação dos países nos países doMERCOSUL.

 

4. Os avanços da automação e sua influência no nível de emprego formalno mundo.

Todavia não foram somente aglobalização do mercado financeiro e a evolução da tecnologia os responsáveispelo aumento do desemprego,  existemtambém outros fatores envolvidos. A   forma como foi  tratada a influência  da  modernização do setor produtivo nas relaçõesentre o capital e o trabalho em muitos casos se deu com a conivência  das autoridades e lideranças dostrabalhadores.

Em meados da  década de 60  o modelo fordista começava dar sinais de esgotamento e não houvea adoção  de  medidas compensadoras suficientes para gerar opções de trabalhoaos atingidos pelo desemprego e pela da automação. Apesar dos esforços dossindicatos, durante as negociações de bastidores na questão da automação,  predominaram  os  interesses dasempresas ( Rifkin,1995:90). Junto com a automação veio a flexibilização dasrelações entre o capital e o trabalho, levando o movimento trabalhista perderas forças de que desfrutava desde o final da II Guerra Mundial provocandograndes taxas de desemprego em todas atividades.

Atualmente, pode-se observarinclusive no setor terciário (comércio e serviços), que até então era um grandeabsorvedor de mão de obra.  A adoção deequipamentos cada vez mais sofisticados passam substituir os trabalhadores nastarefas que permitem a automação. O sistema bancário e os supermercados sãoexemplos de atividades  que estãopassando por profundas mudanças neste sentido.

Segundo Rifkin (1995:201)especialistas no assunto concluíram que os trabalhadores de todo o mundo,continuarão perdendo seus empregos por um tempo ainda indefinido,principalmente, nos países em que o processo de desenvolvimento aconteceu maisrecentemente como é o caso dos integrantes do MERCOSUL. Para os trabalhadoresmenos qualificados, o emprego fixo e duradouro estará cada dia mais escasso.

A característica da novacorporação produtiva dos anos 90 é a competência de controlar atividadessimultâneas em vários locais e de tirar vantagens de diferentes fatores deprodução entre os países. Os centros de decisão, normalmente se localizam nasmetrópoles e os centros de pesquisas estão nos cluster ou em áreas de mão de obra qualificadas.   A produção é fragmentada com a finalidadede reduzir custos totais. Os recursos mais móveis, como tecnologia eequipamentos são transportados para o local em que a mão de obra é poucoqualificada e com frágil poder de mobilização sindical.

No mundo capitalista do finaldo Século XX e no início do Século XXI as grandes empresas que vem se destacando no comando das cadeias deprodução. As producer-driven que sãoas grandes manufaturas coordenando as networks,utilizando intensivamente capital e tecnologia, como é o caso das montadoras deautomóveis, aviões, computadores e de maquinarias pesadas. E as buyer-driven que são os grandesvarejistas, designers e trading networks descentralizados em vários países especialmente no terceiro mundo.  É o caso dos calçados, brinquedos, roupas e eletrodomésticos.   Nesse último caso, eles não fabricam apenascontrolam a produção terceirizada e externalizam os riscos, visto que é maisfácil romper um contrato do que fechar uma planta industrial[7].

A concorrência globalizadaimpõe condições básicas para que essas empresas tenham sucesso - qualidade epreço levando ao desaparecimento de empresas ou grupo de empresas na forma deaquisições e fusões e as conseqüências destas ações influenciam o nível deemprego e o  futuro do trabalho dedezenas de milhões de pessoas que hoje estão no mercado de trabalho.

 

Conclusão

Para concluir pode-se resumirnos seguintes aspectos os vários fatores que influenciam os mercados detrabalho nos países do MERCOSUL. A estratégia utilizada pelos países membros naimplantação do modelo de integração regional, esbarrou nas dificuldadesapresentada pela heterogeneidade das idéias predominante na região. O clima dedesconfiança inicial provocou entraves nas relações dentro do Mercosul, fazendocom que os mesmos realizassem acordos bilaterais com outros países. A adoção domodelo neoliberal em países com profundas diferenças culturais e econômicas porcerto apresentam resultados diferenciados. Por outro lado a  facilidade da internacionalização do mercadofinanceiro, em razão dos avanços tecnológicos, provoca a desregulação dosmercados financeiro e produtivos nacionais, influenciando o sistema produtivo reduzindo o controle sobreas políticas monetárias. As perspectivas do comércio que devido aconvergência  do padrão de consumomundial, provocam  a unificação da demandafacilitando a oferta, criando modificações na estrutura produtiva de cada país.A introdução dos processos modernos de produção provoca o aumento daprodutividade e a conseqüente redução do tempo de trabalho com aumento dalucratividade das empresas. Acrescente-se a isso, a velocidade das informaçõesa melhoria do sistema de  transporte,permitindo que as grandes empresas possam na busca de uma escala global devantagens comparativas,  abastecer ummercado  maior;  A ideologia do livre mercado ampliou-se nomundo principalmente nos países latino americanos. Esse ideário vêm influenciandoa dinâmica das políticas internacionais; As instituições que em razão daausência de medidas reguladoras supranacionais vêm se pautando na redução dosempregos diretos, sem, no entanto discutir formas alternativas de redução decustos por outras vias[8].

O processo de internacionalização e escalada global dosmeios de comunicação, provocando a generalização dos padrões de consumocapitalista. Todos estes aspectos em conjunto vêm provocando alterações nosmercados de trabalho no mundo todo com influência direta nos países emdesenvolvimento dos quais se destacam as taxas de desemprego aberto  crescente nos últimos anos com aumento dodesemprego duradouro, a expansão do emprego em atividades terciárias de baixa produtividade,o crescimento das atividades por conta própria, o  aumento da contratação de trabalhadores sem registro e  sem seguridade social e por fim adeterioração dos salários e das rendas.

 

BIBLIOGRAFIA

BAUMAN,Renato (org).  O Brasil e a economia global. Rio de Janeiro. Campus, 1996

BRAVERMAN,Harry.  Trabalho e capital monopolista: a degradação do trabalho no séculoXX.  Rio de Janeiro: Zahar, 1977.

CHESNAIS,Francois.  A Mundialização Financeira. São Paulo: Chamã, 1998.

COUTINHO& FERRAZ.  Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira.  2ª edição. Campinas. SOBEET, 1994.

DINIZ,Bismarck Duarte. Organização SindicalBrasileira: Uma Abordagem Crítica para Construção do Mercosul. IX EncuentroInternacional de Derecho da América do Sul. La Paz, Bolívia. Out. 2000.

DUPAS,Gilberto.  A Lógica da Economia Global e a Exclusão Social.  Síntese da Pesquisa. Estudos Avançados n.34, IPA/USP, 1999.

GORENDER,  Jacob. Globalização, Mudanças Tecnologicas e Novos Processos de Trabalho eProdução.  In Globalização, Regionalismo e Nacionalismo. Flávia M. de Oliveira(org.)  SP, Editora UNESP, 1999.

HIRST.  Paul. Globalização: Mito ou Realidade, in Globalização: o fato e o mito/José Luis Fiori (org.) Rio deJaneiro, EduERJ, 1998

MARX, Karl. O capital : crítica à economia política.  São Paulo:  Nova Cultural,1985.

MARTINS&  SCHUMANN.

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